28/11/2013

QUEM SOU? (Autobiografia simples)

DADOS PESSOAIS:

Nome - António Hélder Gomes Rodrigues
Ano de Nascimento - 1961
Naturalidade - Alto-molócué (Moçambique)
Profissão - Vendedor Internacional
Habilitações escolares -  Curso Complementar do Liceu
Estado Civil - Casado
Filhos - 1 Filha

Nasci, a 30 de Dezembro de 1961 numa das ex-colónias Portuguesas, mais concretamente em Moçambique, numa localidade no coração da selva moçambicana, de nome Alto-Molocué, juntinho ao rio Zambeze, um dos maiores de Africa , que faz daquela região uma região única, com as suas florestas densas e húmidas, em contraste, com grande parte do resto do território, que tem uma florestação do tipo de savana, menos densa portanto, e mais seca. Aqui vivi, e enquanto bebé aqui dei os meus primeiros passos numa postura Bípede tão própria da espécie humana.
Três anos depois, mudou-se a minha família para a então Capital, Lourenço Marques (hoje Maputo), cidade acolhedora, com infra-estruturas modernas, servida de excelentes vias de comunicação, já naquela altura com um parque comercial e industrial de grande modernidade, devo confessar que, ainda hoje, grande parte das estruturas da industria e comércio que sustentam a economia do estado Moçambicano (Republica Popular de Moçambique), são daquele tempo do colonialismo Português, o seu actual desenvolvimento, ainda depende, e muito, dessa herança, que lhes foi deixada em 1975, ano que assinalou a sua independência (deixou de ser um território ultramarino para passar ao estatuto de estado nação). 25 Junho de 1975 – data da sua independência.
Voltando a mim e as minhas origens, foi neste contexto, território ultramarino, que fiz a minha instrução primária e o ciclo preparatório e, quando me preparava para dar os meus primeiros passos no liceu, tive que mudar radicalmente de vida por força de uma revolução que impôs a sua vontade (25 de Abril de 1974).
A minha família era numerosa (eu + 6 irmãos) e por esta altura todos éramos dependentes dos nossos pais, e foi neste nestas condiçoes (crise dos anos 70 que se alongou até 86 ano da adesão á então CEE hoje E.U.), que cresci na minha fase adolescente e adulta, sempre com necessidade de contribuir para a casa, e assim ajudar os meus pais para que eles pudessem dispor de todo o apoio de que também necessitavam.
Moçambique assume assim, na minha vida, um papel de grande importância, por via de eu lá ter nascido e de ter lá sido educado, numa família numerosa, cujo o papel de educador principal pertenceu ao meu pai, professor primário de profissão, que naquela altura (anos 60 e 70 sec.XX) ele proprio se regia em termos familiares por uma conduta própria do regime autoritário do "estado novo" (regime fascista Imposto em Portugal após a 2ª grande guerra).
Ainda assim devo confessar que cresci de forma sustentável, saudável e com tudo o que era necessário.

A minha ascendência familiar:

Sou oriundo de uma família tradicional com enraizamento em Bragança Trás-os-Montes. Os meus pais foram para Moçambique já casados e com dois filhos, também nascidos em Bragança, eu sou já o segundo nascimento, desta aventura em terras africanas, quarto de um total de sete, tenho portanto dois irmãos e uma irmã mais velhos e, um irmão e duas irmãs mais novos. O meu pai entra nesta aventura de África por via da sua profissão (professor do então ensino primário). É convidado pelo ministério da educação do governo de Salazar, para fazer parte dos funcionários públicos que seriam o garante das intenções do regime da altura naqueles territórios ultramarinos (depois do acordo de entrega de Goa Damão e Diu ás autoridades Indianas todos os outros territórios de administração Portuguesa passaram a denominar-se de territórios ultramarinos, deixando assim o seu estatuto de províncias).
Esta família, que em África se transformou numa família numerosa, era em tudo uma família tradicional, correspondia ao padrão de uma família da classe média, onde as tradições e os costumes eram transmitidos como heranças culturais de pais para filhos, era uma família portanto do tipo patriarcal, onde os elementos do sexo masculino eram os principais elos da família, os elementos femininos eram importantes no apoio de retaguarda e não como faces ou rostos externos do agregado familiar.
Era importante naquela época uma donzela falar francês, costurar e cozinhar, mas acima de tudo era importante que a mulher se subjuga-se ao homem e com ele partisse para um projecto de constituição familiar, de forma a harmonizar assim o bem-estar geral mesmo que isso, lhe custasse a sua emancipação para toda a vida.
A religiosidade, o respeito pelos mais velhos, o cumprimento dos horários da família, o servir a hierarquia eram factores fundamentais no processo educacional do desenvolvimento e do reconhecimento individual, quem não respeitasse estas regras teria de sofrer as devidas consequências.
Apesar desta rigidez toda eu vivi o meu período de crescimento e integração de forma bastante próspera, e muito do que hoje sou advêm ainda destes tempos austeros e impiedosos.
O meu pai marcou sobremaneira a minha personalidade, ainda hoje as pessoas que nos conhecem aos dois, acham que somos uma fotocópia um do outro, na forma de ser estar e de pensar, somos flexíveis, mas damos sempre a máxima importância, ao respeito e ao valor da espécie humana, cada homem (individuo da espécie humana), é para nós um elemento de valor inestimável, e deve ser respeitado como tal, é desta forma que entendemos o mundo e a sociedade por isso muitas vezes se torna difícil entender algumas situações que sabemos acontecem, quer seja por contacto directos com elas ou por via das informações lidas ou recebidas diariamente.
Por tradição, consciência e formação a minha família actual é católica apostólica romana, aliás na sequência daquilo que eu e a minha esposa já trazíamos de casa dos nossos pais, ambos fomos educados pela preservação destes valores e destas tradições. Acredito que a nossa descendência possa dar continuidade a este facto pois considera-mo-lo muito importante na sociedade, mesmo que isto não aconteça sei que tudo fizemos para que assim fosse, estamos portanto conscientes do nosso papel e do nosso dever enquanto membros activos da sociedade e elementos educadores das gerações vindouras.

Vivências, educação as influências do estado novo

Três anos após ter nascido (Dezembro de 1964), a minha família foi viver para a capital de Moçambique, Lourenço Marques, cidade grande, com uma movimentação diária de mais de 1 milhão de pessoas, onde já nesta altura se vivia a grande velocidade, esta cidade dispunha de todas as infra-estruturas de uma grande metrópole, e como era também o maior entreposto industrial e comercial de Moçambique, detinha grande parte das actividades económicas do território.
Na década de 70 do século passado, Lourenço Marques era mesmo uma das cidades mais desenvolvidas e modernas de África, só comparável ás grandes cidades da África do Sul (país mais desenvolvido de África naquela época) e da América, pois foi projectada, para usufruir de infra-estruturas do mais moderno que havia e foi idealizada para se tornar em duas décadas o principal pólo das exportações daquele continente.
Foi graças a este objectivo que o regime vigente em Portugal na altura, deu alguma primazia a Moçambique, pois para além do potencial natural que aquela território possuía, floresta húmida e savana, biodiversidade das mais completas de África, praias na costa indica ao longo de mais de três mil quilómetros, rede hidrográfica excelente para exploração agrícola e energética, subsolo rico em minérios, exposição solar excelente e clima dominado pelas características subtropical onde as estações dominantes eram o verão e a época húmida (Inverno), era também dos territórios ultramarinos aquele que sofria menos convulsões sócio politicas, vivia-se por ali uma acalmia social o que permitia uma governação de grande qualidade do ponto de vista do incentivo ao investimento e ao crescimento.
O equilíbrio, étnico, social, religioso e económico eram na realidade questões de muita importância, e já naquela altura estavam muito bem vincados na sociedade moçambicana.
É neste contexto que cresço, a influencia do totalitarismo fascista do estado não foi um factor determinante na minha educação, onde eu nasci e cresci não havia o culto e o respeito pelos princípios do regime fascista, principalmente quando observava-mos as instituições de índole social como a mocidade portuguesa, associações ou movimentos estudantis pró regime, religião católica reconhecida como a oficial, censura politica, etc. Onde nasci, apesar de se tratar de um território sobre jurisdição portuguesa, já existia por ali uma visão e atitude mais futurista, existia de facto uma mentalidade pró-capitalista e democrática, onde as regras já ditavam uma vontade de implementar politicas socio-económicas num contexto mais global, naquele tempo em Moçambique já se falava e blocos internacionais de desenvolvimento económico tendo em conta as potencialidades internas no mercado mundial, estes factores eram já naquela altura considerados como factores muito importantes para quem governava o território.
É neste contexto, substancialmente diferente daquele que existia em Portugal continental que eu cresço e é neste contexto que é moldada toda a educação que recebi e que hoje procuro lembrar neste pequeno documento.

A escola, os grupos e organizações de que fiz parte:

Desde muito cedo comecei a fazer parte de grupos e organizações que existiam ou existem na sociedade Portuguesa.
Mal entrei para a escola primária, "Escola João de Deus" em Lourenço Marques, Janeiro de 1968, logo me foi solicitado que pertence-se ou movimento da "Mocidade Portuguesa" (movimento juvenil conduzido pelo estado no sentido de dotar os mais jovens da sociedade de um espírito nacionalista pro-regime), este movimento na minha geração já não era obrigatório, mas do ponto de vista pessoal impunha-se que o frequenta-se, pois assim teria todas as ajudas ao nível dos apoios sociais na escola. Como movimento de captação de jovens para o exercício dos princípios nacionalistas, próprios do regime de então, tinha neste movimento encontros bi-semanais, onde muitas das acções desenvolvidas eram coordenadas pelo director da escola, este movimento fez parte da minhas vivências de 1968 a 1974.
Também pratiquei desporto como atleta federado neste período, e fui atleta do "Grupo Desportivo de Loureço Marques", modalidades de judo e natação, e de hóquei patins no "Clube Desportivo Malhangalene".
Quando entrei para o 1º ano do ciclo preparatório, Janeiro de 1971, Escola Joaquin de Aarujo, fui para um grupo de jovens catolicos no "Seminário da Menhuana", também em Lourenço Marques, queria na altura seguir os estudos naquela instituição e por vontade própria, lá estudei até ao final do ano lectivo de 1974, pois no dia 19 de Dezembro desse ano quando eu já me preparava para entrar no Liceu, parti, como toda a minha família para Portugal continental, pois a revolução de Abril de 1974 não nos deixou outra alternativa.
Chegado a Portugal, fiquei tal como os meus irmãos (todos menores de idade o mais velho tinha 20 anos, mas a maioridade só se obtinha aos 21 anos), surpreendido com a realidade encontrada, pois esta não condizia com aquilo que se transmitia e cultivava pelas terras de África, esta era uma realidade bem diferente, para pior.